quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mundo de espelhos

Estou piorando de novo. Não vejo mais as coisas, só vejo eu. É assim que um louco vive. Num mundo cheio de espelhos, sem conseguir enxergar nada atrás. Preciso descer ao mundo, tocar os pés no chão. Mas as brumas tapam meus sentidos. E sonho num sonho de adormecido.

As coisas que expresso, não são deste mundo. Interrogam-me sobre meus gestos desconexos, digo que fadas e borboletas povoam o céu naquele momento. Mas só há borboletas, nem tantas assim. Mas com pena de mim, me deixam no parque a vontade.

Onde estão os sorrisos benditos, que vejo de olhos vendados? Os gestos amigos de irmãos, na imaginação. É segredo espiar. Por trás de uma fechadura, povoa um mundo traiçoeiro. Eu de tanto espiar, fechei meu coração. Pintei de branco, manchas de sangue da desilusão.

Meu mundo agora é viver nesse cantinho, pintado por mim de cores vivas, por onde passeiam os olhos e a imaginação.

Quem sabe um dia eu volte, forte, astuto e profundo, possível de inventar mais felicidade no mundo.Por enquanto, encerrei o assunto.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sistema penal brasileiro

Ao descobrirmos que fomos roubados por alguém, a primeira coisa que sentimos é raiva. Sermos roubados por alguém, significa ser prejudicado pela pessoa que cometeu o crime. Ao crime, estabelecemos punições, ao criminoso que seja punido.

No Brasil, só vai para cadeia, pessoas que não tem acesso a advogados. Criminosos que tem dinheiro, contratam bons advogados e na maioria conseguem responder ao processo em liberdade. O que transforma o sistema penal brasileiro num depósito de marginais que mesmo após terem chegado a prisão por pequenos delitos, aprendem e evoluem criminalmente, voltando a sociedade com alta periculosidade.

O sistema de punição não diferencia um assassino de um ladrão de mercado, importando somente se o criminoso tem como contratar bons advogados para defende-lo ou ser abandonado, punido e esquecido pelo sistema, como depósito de carga ao sistema prisional falido.

A enorme desigualdade social entre a maioria miserável e a milionésima parte milionária, faz aumentar a criminalidade que varia entre crimes como pequenos furtos para a subsistência até grandes sequestros bem planejados.

Diante do caos a única opção inteligente é a mudança penal para pequenos crimes, como furtos, pequenos tráficos em troca de drogas, em liberdade, com a pena de cumprir serviços comunitários, como já é feita para toda a classe média.

Estender esse pequeno serviço às classes baixas se faz mais do que necessário para a diminuição da criminalidade e economiza dos cofres públicos com um sistema prisional que só se faz útil para o desenvolvimento progressivo de técnicas e planejamento criminal contra o estado e a sociedade civil. É dever do Estado proteger a sociedade da criminalidade, estendendo a população sem recursos financeiros para contratar um advogado, essa prestação de serviço, protegendo a sociedade de um agravante da criminalidade beneficiado pelo próprio Estado.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O mundo não acabou

o mundo não acabou
há quem se mate de novo
há quem se salve um dia
o mundo não acabou
sempre haverá poesia (samba)

sábado, 27 de outubro de 2012

O SOFÁ

Entrou dentro no sofá fazendo o pó cobrir a sala. O repouso das bundas, deixava-lhe ora alegre, ora apreensivo. Gostava de participar da decoração e as vezes acendia como um abajur. Falar não falava, somente dizia sim, não, obrigado. Um dia veio há reposar um outro na poltrona enfrente. O pó os cobriu antes da faxineira chegar, tirando sua liberdade. Caretas fazia, mas a poltrona nem se incomodava. Os eventos seguintes, deslocaram-se para cozinha. Sofá e poltrona foram trocados e o novo dono da casa ninguém conhece.

UMA NOITE MAL DORMIDA

Depois de assistir a um filme, de repente se espantou. Uma ideia clareava sua mente de maneira assustadora. Seriam os psicopatas uma evolução para a sociedade? Tal ideia o assombrou de tal forma, que à noite ao dormir teve um pesadelo em que fazia amizade com um psicopata que só fingia ser seu amigo e aparecia de noite em sua casa, com uma faca afiada, pronto para lhe matar.

Assustado, acordou molhado e foi tomar uma água. Mais relaxado, desceu para seu quarto. Se fechou, apagou a luz se deitando na cama. Fechou os olhos e tentou voltar a dormir. Voltou a acordar e não pegava no sono. Começou a reparar nos ruídos de insetos que se arrastavam pelo quarto, pegadas de barata, insetos voadores e ranger dos móveis. Os gatos no telhado e no quintal, o vento nas folhas das arvores. A porta da garagem abrindo, pegadas subindo as escadas. O segundo portão se abrindo, pegadas cada vez mais nítidas até parar enfrente ao seu quarto. Seus olhos arregalaram no quarto escuro e seu coração era quase possível de se ouvir. A fechadura da porta começou a fazer barulho. Abrindo lentamente, um estranho, magro e alto com um rosto sem expressão, segura algo em sua mão. O homem do quarto grita, todos os vizinhos ouvem. __‘’não vai doer. Será rápido e indolor’’-fala o estranho segurando uma faca. Por instinto, o homem do quarto chuta-o para traz e sai correndo pelo quintal em direção ao jardim. O homem de faca na mão aproxima-se lentamente, cada vez mais próximo, mas sem pressa. A vítima desesperada implora pela vida ao estranho, que continua andando cada vez mais próximo até encurrala-lo.

Há dois metros de sua vítima, ergue a faca que reluz ao luar. Preparado para dar a facada certeira, seu pé tropeça em um buraco escondido pela grama fazendo seu corpo cair encima da faca. Desconsolado só tem tempo de dizer’’ não era para ser assim’’. O homem encostado no muro do jardim, aliviado pensa ’’a vida é cheia de acidentes’’
Os policiais logo chegam ao lugar do crime e quando o homem acorda, pensa: preciso parar de ver esses filmes.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

GAROTAS

Nada parecia proibido

Se juntasse todas as mulheres que teve contato, não daria para fazer um curau. Mas estouradas como pipoca, dava uma panela cheia. Não tinha tido tantos contatos, relacionamentos menos ainda, mas sentia a necessidade de escrever sobre elas.
Quando criança, ainda no pré, todos brincavam no intervalo entre o pátio, os brinquedos como o trepa-trepa e a gangorra, a horta e os muros, que na verdade pareciam só paredes. Era uma farra e acredito que éramos felizes de verdade. As meninas já nos interessavam, mas ainda não sabíamos direito como nos relacionar com elas.
Ainda não sabe e hoje tem menos traquejo com elas do que nesse brilhante começo de vida, onde tudo era novidade e nada parecia proibido.
Num desses intervalos, uma garota parecia ousar muito mais do que as demais, chegando um dia a mostrar para todos os garotos sua perereca. Só que eu estava distraído em outra parte da escola e quando soube da novidade já era tarde, o sino tocou e eu não consegui ver nada no meio daquele tumulto todo de meninos em plena euforia tentando se revezar para ver a novidade.
A garota ficou falada, na verdade acho que por causa da reprimenda dos professores. Pois nós gostamos muito e se não fosse as professoras adoraria ver numa segunda vez aquilo que se tornou naquela tarde o evento mais interessante para todos nós meninos.
Aquela garota foi a primeira que tive um real interesse, passando a pensar sobre ela varias vezes até o ginásio, quando a encontrei e descobri que se tornou uma menina simpática, mas meio pudica.
Ainda no pré, num dos intervalos, passeando distraído, encontrei uma garota muito simpática com quem fiquei até o fim do intervalo. Conversávamos muito e reparava pela primeira vez como ela menina era diferente de nós, muito delicada e conduzia a gente pelo pátio aonde ela queria como se eu estivesse hipnotizado naquele momento. Ao tocar o sino ela entrou para uma sala e eu noutra e apesar de estudarmos na mesma escola, nunca mais a vi.
Percebi que quando me interessava pela companhia da pessoa como no caso, não tive muito êxito. Já quando me divertia simplesmente as coisas aconteciam.
Dentro da sala de aula em plena aula, juntamos as mesas para fazer trabalho em grupo. Por acaso fiquei junto com duas garotas. Tenho uma coleção de borrachas e desço embaixo da mesa para pegar uma que caiu. A garota desce embaixo da mesa comigo e dou meu primeiro beijo. A segunda garota desce e pergunta o que estamos fazendo. Puxo-lhe e dou um beijo também. Sem perceber a professora está chamando alto meu nome na sala.

2- O prezinho acabou

Quando mudei de escola, passei longos anos sem me adaptar. A falta do parquinho, as árvores, aquela farra toda cheio de crianças de quase a mesma idade substituída por uma sala onde tinha que se aprender a fazer contas e escrever não foi nada bom pra mim. Eu que aprendera a me relacionar e ser mais expansivo com as garotas, no ginásio retrocedeu em uma timidez e um comportamento em que não fiz nenhum amigo dentro da escola. A não ser de finais de semana quando a escola era ocupada por nós para fazer brincadeiras, como pega-pega, esconde-esconde, pula corda.
Mas o traquejo com as mulheres foi substituído por uma timidez que ao contrário me afastava delas. Fazendo com que os garotos no ginásio falassem que eu tinha medo de mulher. Chegando a receber convites de garotas que eu por timidez demorava tanto a responder com que essas dificilmente ficavam disponíveis quando eu queria.
Ia eu vendo as garotas interessadas em mim com o passar do tempo ficando com meus colegas e até amigos por falta de minha atitude.
Com o tempo fiz dois amigos na rua de casa andando de bicicleta. Com eles passei a sair junto para paquerar as garotas, só não adiantando muito para o meu sucesso, pois eram dois fracassados em matéria de garotas.

3- Começo da vida adulta

Já no colegial depois de muitos anos naquela camisa de timidez, tive coragem de convidar a primeira garota do colégio para sair. A garota não era muito normal, do tipo que gosta de ETs e meditação, mas aceitou sair comigo. Demos uma volta, chegando finalmente numa pracinha. Foi lá que ela perguntou se eu já tinha beijado de língua. E se não, deveríamos experimentar, pois já estávamos velhos para não ter experimentado o que a maioria dos nossos colegas já faziam há anos. Concordei e nos beijamos.
Ela era a primeira garota com que eu tive o projeto de ter uma namorada. Só não foi a primeira porque ela parecia mais interessada em me usar como um experimento do que sentia algo por mim.
Após perder a virgindade com outra mulher, que me colocou no carro e me levou direto para o motel, conheci a segunda garota com quem teria um primeiro relacionamento.
Terminado o cursinho descobri que havia uma garota interessante que gostava de mim e que nunca dera bola. Fui ao cursinho, peguei o endereço de onde trabalhava e pela primeira vez levei flores para uma garota. Que reclamou dizendo que estava atrapalhando o trabalho dela. Mas no dia seguinte ligou agradecendo.
Combinamos de sair. No final do passeio me parou na rua e me beijou deixando meus lábios inchados. Com ela aprendi a namorar. Durando o suficiente para chama-la de primeira namorada.

4-A segunda namorada

Estava na ópera punk com meu amigo gótico, já tendo conhecido de maneira mais intima uma das garotas na primeira vez, quando vejo uma japonesa se interessar por mim. Eu adorava japonesas mesmo sem nunca antes ter ficado com uma. Essa garota é especial. Não só porque era japonesa, porque tínhamos muita coisa em comum e passamos o namoro nos curtindo muito como dois aventureiros vivendo loucuras em viagens, lugares públicos ou proibidos. Até que tivemos uma filha e passamos dois anos casados.
Depois de nos separar conheci na faculdade a primeira garota verdadeiramente apaixonada por mim. Pela qual me deixei levar por anos, voltando a nos ver ocasionalmente depois de termos terminado e sendo amigos até hoje. Sendo a única que não se queixou de mim até hoje.
A primeira vez que saímos me perguntou se eu gostava de assistir filmes pornôs. Isso era uma atitude dela assim como a maioria que fazia tudo ficar mais fácil. Tive depois uma namorada louca que me convidou para sair e que depois de umas duas cervejas, me beijou em plena rua. Outra que era linda como uma modelo, mas disse que nunca tinha beijado na vida, pedindo para me beijar.
Todas queriam de mim alguma coisa. Podia ser um beijo, beijos e sexo, namorar, ou até casar. Mas sempre eram elas que comandavam, fosse um convite, uma conversa ou simples correspondência ao olhar. Só quando elas se mostravam interessadas é que as coisas aconteciam. Assim deixei de me preocupar, já que são elas que estão no controle. Nos últimos anos passei a aproveitar melhor as chances em cada contato, mas estou longe de me considerar um conquistador.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

TONI

Em vão ele tentava entender a vida, mas ele nem ao menos era narrador desta história. Simples personagem, do tipo que não pode enxergar personagens que estão encobertos por muros, distância ou que andam por outros caminhos. Mas tentava. Sempre olhando para o chão e pensativo, achava que um dia ia sair daquele labirinto.

Os outros só agiam. Alguns concordavam menos outros mais. Mas no geral aceitavam as coisas como eram ou como lhe pareciam. Seus problemas eram do tipo: caiu a bola no vizinho. Preciso de um sapato novo. Fulano é muito chato. Estou endividado. Já ele, não se preocupava tanto com tais problemas, porém deixava de ter uma vida normal.

Andando de olhos para o chão, olhava para si, procurando resolver os problemas do mundo. Visto daqui era um ponto preto prestes a esbarrar em qualquer poste, pedra ou buraco que estivesse em seu caminho.

Uma garota começou a se interessar por ele sem que se fizesse notar. Passava por ele sempre quieta, mas com um sorriso tímido os dois se olhavam.

O tempo foi passando e Branca ligou para Toni até que saíram pela primeira vez. Foram a uma trilha no meio do mato atrás de uma cachoeira. Toni furou seu dedo num espinho. Branca pediu para ver, pegou seu dedo e chupou até o sangue estancar. Corado e vivo, começou a se interessar mais por aquela garota.

Branca não gostava de pensar muito, gostava de viver a vida. Toni foi se deixando levar por aquele sentimento de carpe diem e quando começava a pensar demais Branca falava: ‘’pensar demais fede’’. E assim os dois foram vivendo. De cachoeira em cachoeira, de praia em praia até que Branca teve um susto e pensou: Meu deus! Estou grávida.

Toni adorou ser pai, mas por outros motivos os dois viveram juntos só até os dois primeiros anos de Sofia, que cresceu adorando o pai, com quem adora conversar reflexões e pensamentos filosóficos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O BEST SELLER

Ele estava diante do computador tentando escrever uma história de amor encomendada pela editora. O problema é que não ficava com uma única mulher naquele ano. Relacionamentos, mais de dois e histórias que valeriam ser contadas, uns quatro.

Acostumara viver a vida sem romances. As vezes se pronunciava, para uma garota aqui, outra ali, mas no geral conseguiu um jeito de viver a vida sem ser amado. Não ser amado por algumas mulheres não fazia muita diferença, já que era amado por seus amigos e sua família e seu gato.

Mas aí estava o problema. Como escrever sobre algo que no momento não despertara minimamente seu interesse. Por outro lado, precisava daquele contrato, seu editor não aceitaria uma recusa de um iniciante.

Foi até a cozinha, preparou um café, beliscou umas bolachas, voltou ao computador de tela branca.

Tinha uma noção vaga do ser feminino. Escrever sobre elas era algo difícil de improvisar. Eram como crianças carentes sempre atenciosas aos seus bichinhos, nós no caso, mas que quando esses bichinhos deixavam de ser bichinhos, se tornavam dominadoras de feras, quando não nos estraçalhavam.

Era difícil escrever algo realmente bonito com essa noção de mulher em sua cabeça. Foi então que teve uma ideia. Escreveria sobre elas, como se elas fossem homens.

Seis meses depois estava em todas as livrarias como Best seller: ‘’Afrodisíaca Paixão- do autor que mais entende sobre mulheres’’.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A ANSIEDADE

Aquela ansiedade estava desequilibrando sua rotina. Como uma força de vontade própria, não tinha mais paz em sua casa. Não parava de comer. TV, computador, violão. Queria um trabalho. Dinheiro não tinha, pensar em mulheres estava fora de cogitação. Queria uma distração, mas o que fazer?

As opções sempre se resumiam a arte. Mas que arte sobrevive sem uma vida por trás da arte? Precisava de vida e pra isso de dinheiro. Sem dinheiro, não saia e resumia sua ansiedade em ficar ansioso dentro de casa.

Dinheiro para o transporte até que tinha. Poderia se deslocar até uma exposição. Parou, pensou. Mas pegar dois ônibus, ter o risco de pegar o rush, nem pensar. Estava com preguiça. Preguiça e tédio de ficar em casa. Ligou para um amigo para ver se pagaria uma cerveja, nada.

Foi então que lembrou que tinha meio litro de cachaça. Não teve duvida. Ligou para seu amigo convidando para tomar uma batida antes do show de graça que teria mais tarde do lado de sua casa.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A GUERRA

A guerra começa. Pedro, de dezoito anos não teve tempo de treinar o tiro ao alvo. Inseguro vai pro fronte sem nem saber direito o porquê ou com quem deve lutar. Longe de casa lembra da namorada que acabara de engravidar e com o salário de soldado se preocupava dia e noite se teria um futuro certo.

Os generais, apoiados pelos seus exércitos e comandantes, estão prontos para ocupar o território inimigo. A cobiça pelo poder e a sede de triunfar são postas como principais motivações deixando suas preocupações pessoais e familiares reservadas ao laser.

Líderes de governo, tensos, não por botarem suas vidas em risco, mas pelo perigo de perderem o poder, suam frio, como hienas que não querem perder o osso.

Nações inteiras lutam juntas para tentar salvar o que ainda resta da organização e mundo antigos. A batalha é de um lado, entre a tecnologia avançada de um Estado contra uma multidão de exércitos mistos governados por comandantes e generais desesperados.

Pedro, suando frio, já não tem certeza se volta para casa. O futuro de seu filho agora parece longe de estar nas suas mãos. Mesmo assim ele se esforça, para voltar vivo para casa e ver seu filho, qual ainda nem sabe o sexo.

Civis dos países atacados entram na guerra, fazendo a diferença ao atacarem o país de superioridade bélica. São vidas inteiras se perdendo dos dois lados. As mortes, as vezes por infecção, ou falta de tratamentos médicos reduzem milhões à milhares. No final não se sabe bem quem ganhou a guerra.

Os generais vitoriosos celebram a vitória, grande motivo de orgulho e medalhas, seus status estão garantidos.

Os líderes de oposição pouco se mexem, como se aquela vitória ou aquela tragédia não o abalassem tanto quanto a Pedro. Que volta sem uma perna, pulando de alegria, pronto para pegar sua filha nos braços.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O FORMIGUEIRO

Passava antes longas tardes sem dizer nada. Agoniado entre a solidão e a falta de o que fazer, era ele um ansioso corpo, querendo prazeres e novidades. Descobriu um modo de passar o tempo. Cuidava da casa, mantinha-se o máximo ocupado e quando ia fazer alguma coisa como ouvir musica, tomava o cuidado de fazer outra coisa junto para distrair a mente. Não aguentava mais passear sozinho, chegou a ter ódio de passeios culturais sem perceber que o que marcara era a falta de ter com quem partilhar tanta novidade. Até que descobriu seu passa tempo preferido.

Possuía um jardim que fora muito bonito e pomposo no passado. Agora, parecia mais um quintal. Vários formigueiros se instalaram e a maioria das plantas já não tinham flores enquanto que as trepadeiras tomaram conta até do telhado, precisando urgente de uma reforma. Como não possuía prédios ao redor de seu quintal, estava acostumado a tomar banhos de esguicho desde criança, sem nenhum incomodo de ficar pelado. Banhos de sol, esguicho, balde, tudo isso passou a ser ocupado pelos formigueiros. Removeria enfim os formigueiros e faria de novo seu jardim.

Pegou o esguicho e começou a esguicha-los. Mas estavam tão duros que nada aconteceu. Teria que derruba-los com algo duro. Pegou um pau de vassoura e começou a destruir. Euforicamente, passou a destruir em segundos aqueles que seriam os lares de milhares e milhares de formigas em desespero. Foi aí então que tirou a roupa.
As mordidas causavam-lhe euforia de tal forma como só um fetiche bestial pode ser descrito. Em alguns minutos se estrebuchava no chão enquanto milhares de formigas o mordiam. Mordidas atrás de mordidas enquanto ele parecia feliz. Até o segundo momento, em que seu corpo exausto começou a se estrebuchar de desgosto, das picadas, da dor física que o afligiu por inteiro.

Com esforço físico, saiu do quintal e foi direto para o chuveiro se lavar. Tomou um banho demorado, pois uma roupa e foi se deitar. E sonhou. Era um gigante nu do tamanho de um arranha céu que vinha pra acabar com tudo. Seus habitantes, milhares de cidadãos engravatados que mordiam sua perna em vão em meio da anarquia e destruição causada por ele. Eram como formigas insignificantes, era agora o homem mais poderoso, com a cidade aos seus pés.

No dia seguinte ao passar pelo jardim, viu as formigas trabalhando sem parar para refazer os formigueiros destruídos. Dia após dia sem cessar para terem suas vidas de novo no controle. Seriam semanas até que seus lares fossem totalmente reerguidos. Mal sabiam elas que aquele se tornara o passa tempo preferido daquele homem, que passava a maioria das horas sem fazer nada.

domingo, 30 de setembro de 2012

O MORTO

Sou um morto, um fantasma que assombra esta casa, só agora entendo isso. Eu morri naquele dia em que me matei cortando a garganta, mas, como um erro, a vida continuou na minha cabeça. Eu faço compras, recebo telefonemas, vivo e respiro, mas na verdade sou um fantasma. Meus amigos, alguns são espíritos como eu, perdidos, procurando se encontrar, outros continuam existindo, me visitando, conversando comigo, mas só existem de verdade em outro plano, se é que ainda não morreram. Minha mãe, meu pai, minha irmã e eu, tudo de mentira. Até minha filha continua crescendo. Eu continuo envelhecendo, fazendo cicatrizes, machucando aqui e ali, ficando fraco, as vezes doente, mas sou só um fantasma nesse mundo irreal. É impressionante como morremos sem o perceber. Passam-se anos e nem nos damos conta. Imaginava aqueles jovens suicidas, Jim Morrison, Jimi Hendrix, espíritos novos eternamente. Agora sei que eles envelheceram, ficaram velhinhos e ninguém os viu passar por aí. Assim, este texto não tem muito sentido, já que não pode ser lido, exceto por fakes e alguns fantasmas.

Escrevo pra mim, pra não esquecer, por me preocupar com minha irmã menor que ontem a noite tinha pesadelos, para que seus sonos sejam mais tranqüilos.

O LOUCO

Os olhos brancos brilhavam ao se deparar com uma sensação nova, sentia um novo fluxo de sangue percorrer seu lóbulo esquerdo como tentáculos nunca usados, se transformando num novo por prazeres incomuns do tipo que não se deve afirmar sentir, e voltou a si pasmo, por ter tido tais pensamentos pervertidos, sabendo dos futuros problemas que lhe podia acarretar tais pensamentos novos e prazerosos. Então levantou, tomou seus remédios e foi pra rua ver assassinos em roupas cotidianas, ladrões que pagassem sua cerveja, amigos pedófilos e todo tipo de pessoas normais da onde a perversão fazia parte da natureza humana. Seus amigos eram esquizofrênicos, bipolares, adictos. Ele queria ser normal, até perceber que ninguém era normal de perto. Repensava sua vida e estava diante de um mundo novo de loucos, associáveis, delinquentes, criminosos... ao mesmo tempo que isso deu nova cor as pessoas à sua volta não sabia como conseguiria sobreviver a tal selva de vida fora de tudo ao que tinha sido educado como certo, errado e suas convenções. Pensou em enlouquecer, parar de tomar seus remédios, mas não sobreviveria. Sua filha não viveria sem ele.

E daí, como uma tarde em que plumagens balançavam no fim do dia, como repouso e consolação de que a vida não tinha só um fim em si mesmo, mas um consolo de continuar como o passeio naquele parque, com os olhos na plumagem das árvores sob o cair da tarde, sabia que iria continuar a tudo fazer sentido e a loucura dos transeuntes seria extinta em cada passo sentido à razão, como o vento a espalhar o movimento nas folhas depois de um dia de pensamentos tão atribulados.

O NOVO DONO DE ANIMAIS

Ele possuía um vazio na alma que o seguia aonde ia. Com uma ânsia, ele seguia sua vida rotineira. Trabalhava nove horas por dia no escritório, era um excelente funcionário. Pagava suas contas muito bem. Tinha família, alguns poucos amigos. Mas aquele vazio o estava matando. Foi aí que planejou seu primeiro assassinato.
Comprou um passarinho numa loja de animais e o soltou dentro do apartamento para ele se adaptar. Por um mês botou ração todos os dias, água e limpou seus excrementos. Em seguida comprou um gato, o qual deu o nome de killer, mas tomou cuidado para colocá-los em ambientes diferentes. Por último veio o cachorro, com quem brincava agressivamente com restos de carne no fundo da lavanderia. Quatro meses se passaram com cada animal isolado em seu quarto até que, numa sexta feira, depois de chegar em casa... Sua tia o foi visitar.

Levou rosquinhas caseiras de aveia, falou que estava muito magro e pálido. Brincou com cada um dos animais. Acabado os biscoitos, deu um beijo em sua testa e antes de ir embora ajeitou seu cabelo perguntando sobre as ‘’meninas’’, se tinha alguma em vista e por fim foi embora. Quando se despediu, a euforia tomou conta e foi correndo soltar os bichos. Nesse momento tocou a campainha.

Uma vizinha, que mexendo muito o cabelo e rindo nervosamente, disse que estava fazendo uma festinha no apartamento do lado e perguntou se ele queria aparecer mais tarde. Se livrou rapidamente da vizinha e voltou à cena do crime. Primeiro soltou o passarinho, que voou desesperadamente pela sala. Depois abriu o quarto do gato que tentou de toda forma pegar o passarinho. Mas o circo pegou fogo quando do fundo da área de serviço foi solto da coleira o cachorro, que foi correndo como um louco para atacar o gato e o passarinho.

Após algumas horas, os três animais brincavam pela sala como uma verdadeira família. O cachorro com o gato, o gato com o cachorro e o passarinho passeava no meio dos dois como um velho irmão ali pela sala. Pasmo pensou que alguma coisa estava errada. Como crianças já cansadas, dormiram os três, um encostado no outro ali mesmo na sala depois daquela farra na casa dele, o dono de cada um dos animais de estimação que ali estavam depois daquele encontro tão bem sucedido por seu dono. Algo de estranho tinha naqueles animais pensou o homem. Talvez fosse um erro deixá-los tanto tempo juntos no mesmo apartamento... O homem não parava de pensar.

Depois de sua festa diabólica frustrada, foi para cama. Ainda atordoado, teve um sonho estranho, com a vizinha que o convidou naquela noite para uma festa... Seus cabelos, seu sorriso, aquilo mexeu com sua imaginação. Embalado pelo sonho só se viu uma ponta de sorriso no quarto escuro. Matar a vizinha talvez fosse uma boa idéia.

A MAÇÃ

Então, aquele homem, desenganado pela vida, sentou sobre o chão e desfrutou da tranqüilidade do domingo. E toda luz revelou uma paisagem pálida e brilhante. O mundo nunca mais seria o mesmo. Ele vivia uma imagem tipicamente realista. Seus olhos estavam cansados, pois já não sentia a intensidade das cores, porém, a luz branca daquele dia calmo banhava os seus poros lentamente. Preso no tempo, como um relógio, estava exausto, com uma ressaca diferente das que estava acostumado. Levantou-se com esforço sentindo uma dor no pescoço. Começou a caminhar sobre aquelas ruas que antes estariam cheias de carros e pessoas, sozinho, com muito tempo para pensar. Sentia sua alma pra dentro fazendo com que seu corpo ficasse arqueado, de olhos pro chão. Não sabia pra onde caminhava, só queria pensar. E não resolvia nada pensar naquela hora. Então caiu algo em sua cabeça e olhou para cima.

Uma voz do alto, um equilibrista pediu-lhe desculpas por deixar cair sua maçã. __Desculpe! Minha maçã caiu! Surpreendido pelo funâmbulo saiu de seu transe instantaneamente. __Quer que eu jogue? __Antes dê uma mordida! Ao sentir o doce da fruta extremante suculenta de cor rubra, seu rosto corou. Jogou a fruta ao circense que lhe agradeceu e foi embora. Continuou seguindo seu caminho, agora, mais aliviado. Pensou que talvez estivesse com fome. Olhou para traz e o equilibrista aos poucos fora sendo coberto pelos prédios. Naquela mesma tarde anoiteceu e vieram cores em seu pensamento. Mas de fato ele nunca mais foi o mesmo.